Nas ultimas postagens (se bem que estou devendo algumas referentes ao mês de agosto com as primeiras impressões com os novos alunos), discutimos algumas das questões primárias a cerca do ensino do jogo de futsal fora do ambiente escolar - o jogo coletivo e a movimentação sem a bola.
Na aula de 31/08/2010, na parte final realizamos um pequeno jogo situacional de possessão da bola com vantagem/desvantagem numérica frente a marcação adversária. Os objetivos iniciais propostos para as equipes foram os seguintes:
Manter a posse da bola (prioritariamente para o grupo em vantagem numérica) e movimentar-se pelo espaço de jogo (no caso em questão metade da quadra);
Recuperar e manter a posse da bola (prioritariamente para o grupo em desvantagem numérica) por meio de ações de redução de espaços, fechamento de linhas de passe e bloqueios;
Em ambos os casos tentar utilizar o máximo do espaço disponível para realização dos movimentos coletivos em quadra.
Também foi recomendada a utilização do padrão de triangulação visto nas aulas anteriores (ver fotos) quando a equipe estivesse com a posse da bola. Porém o que foi visto após o inicio da atividade foram dois erros básicos gritantes, por parte das equipes e dos alunos.
O primeiro tem seu ponto de partida no desenrolar inicial da atividade com algumas tímidas tentativas de passe em equipe esbarrando na coesão defensiva resultante da utilização do espaço pelos alunos. Os membros das equipes em superioridade numérica reduziram a ocupação do espaço destinado a atividade em 25%, com alguns momentos indo até 33% da área disponível, ou seja praticamente 75% da área de jogo ficou sem utilização.
O segundo tem seu inicio no desenrolar da atividade. O primeiro grupo em desvantagem numérica conseguiu realizar o objetivo proposto para ele - recuperar e manter a posse de bola (conforme foi citado anteriormente nesta postagem), ainda que esta posse não durasse muito tempo. Do segundo grupo em diante não houve esta preocupação com a realização dos objetivos propostos, o que se viu foi uma preocupação exagerada em destruir as ações do grupo adversário e por a bola para fora, objetivando a saida deste ultimo.
E nisso se foram longos e penosos minutos da atividade, sem que se recuperasse a atenção as instruções iniciais e se buscasse o cumprimento dos objetivos iniciais traçados para a cada grupo.
Ao final o retomamos a conversa de avaliação da atividade proposta e os discursos dos alunos mostrou que eles já não lembravam quais tinham sido as regras e os objetivos propostos no inicio. A preocupação deslocara-se durante a atividade para uma competição sem lógica e sem nexo para a sua ocorrência, impedindo o aprendizado que aconteceria decorrente das tentativas deles superarem as dificuldades surgidas na prática.
Nas proximas aulas tentaremos algumas estratégias para que os alunos comecem a apresentar a lógica de raciocinio necessária para o desenvolvimento da autonomia tática a partir de um modelo de movimentação prévio. Cientes que algumas dos nosss tradicionais artificios metodologicos não tem desencadeado os comportamentos esperados por parte dos alunos.
Começo esta postagem pedindo mais uma vez desculpas pelo longo intervalo entre as postagens. Se bem que desta vez foi por um motivo muito importante, o nascimento da minha filha e a falta de noites de sono decorrentes da adaptação dela a nova vida.
Mas o que me traz aqui são as reflexões em cima de uma frase de minha assistente técnica (agora técnica até o meu retorno em 2011) Gessi Anne, no dia da reapresentação geral da equipe (1º/03/2010), ao ver o que restara da equipe do ano anterior - "você escolheu o pior momento para se afastar".A fala dela mostra o medo que a maioria dos técnicos ou responsáveis por equipes tem no inicio de uma temporada, quando tem de recomeçar do zero ou quase dele.O inicio de uma temporada com um grupo totalmente novo ou como preferem alguns cronistas esportivos - um time "desfigurado" em relação a temporada anterior. Este momento deveria ser visto como uma oportunidade para aplicar ou testar novos exercicios ou metodologias. Uma vez que novos atletas são fonte para o surgimento de inumeras situações de ensino aprendizagem, novos confrontos e oportunidades de crescimento.Se os atletas são inexperientes ou de um nível técnico aparentemente mais baixo que os do grupo da temporada anterior, melhor ainda, pois o desafio será maior e a recompensa maior ainda. Porque os educativos e estratégias utilizadas no processo didatico com um grupo, muitas vezes não tem o mesmo efeito em outro, obrigando o técnico ou professor a buscar alternativas... estudar... e a se reinventar.Talvez aí resida o grande motivo do medo, não é fácil sair da "ilha" de conforto e comodidade que construimos, mas é preciso. Como Gessi Anne vai descobrir e muitos por esse país também deveriam.
Dando continuidade a postagem de material de 2009. Colocaremos hoje mais um educativo para o ensino e aprimoramento do educativo passe.
O educativo desta postagem tem por objetivo de trabalhar a precisão do passe e da recepção, com uma carga de pressão sobre a velocidade da execução das ações técnicas. Assim podemos afirmar que o aspecto concentração estará também presente.
Ele é uma adaptação de um exercício da Academia do Arsenal (da Inglaterra) de futebol feminino. A principal diferença é que enquanto o do Arsenal é estático (ou seja sem movimentação por parte dos jogadores), aqui utilizamos a movimentação entre os portais como mais um elemento de dificuldade para os alunos e atletas.
A pressão sobre a velocidade de execução é dada pela quantidade de bolas que podem ser utilizadas no exercício. Sendo que começa-se com uma única bola e vai acrescentando as outras gradativamente até um máximo de 04 bolas.
Montagem
O educativo é composto de 04 portais de 0,8 metros cada dispostos cada um em um vértice do quadrado ou retângulo com no mínimo 12 metros de lado. Em cada vértice deverá ter um espaço de modo que o portal não obrigue ao aluno a ficar fora do espaço do quadrado ou retangulo.
ExecuçãoCada aluno recepcionará a bola passada pelo seu companheiro, gira para ficar de frente para o portal e passa a bola para o companheiro no outro vértice. Após o passe ele também se desloca de modo a ocupar o lugar do companheiro que estava no vértice para onde ele passou a bola.
De modo a estimular a velocidade de execução e a eficiência dos alunos, pode-se estabelecer "castigos" ou prendas a serem escolhidas pelos companheiros que não estavam no exercício no momento do erro.
Esta é uma das postagens que ficaram pendentes de publicação em 2009.
O maior problema que pudemos observar em jogadores de futsal "iniciados" na rua, nos vários anos de funcionamento do Arte nas Quadras, é que apesar do nível de habilidade individual ser bom ou ótimo na maioria das vezes, eles dificilmente executam bem as ações técnicas típicas do jogo de futsal.
Neste caso a questão do gênero (masculino ou feminino) não exerce grande influência sobre o grau de dificuldade na execução com precisão das ações técnicas. Em quase todos os casos a dificuldade pessoal deles na execução das ações técnicas, resulta em jogadores que preferem partir para uma situação 1v1 a buscar assistência de um companheiro (a) para vencer a oposição representada pelo adversário.
Uma das principais ações técnicas não executadas com precisão é o passe. A recepção até que muitas vezes acontece a contento, especialmente se envolve o amortecimento de bolas oriundas de lançamentos ou passes cavados, mas também requer cuidados e correções.
Os exercícios analíticos estáticos comumente aplicados para situações como a descritas, não conseguem “prender” a atenção dos jogadores acostumados com o ambiente lúdico das ruas. Eles apresentam grandes dificuldades em manter a concentração durante os exercícios e reclamam de cansaço após curtos períodos de atividades. Já se observados nas ruas eles jogam durante horas sem qualquer reclamação, não importando as condições climáticas (sol ou chuva).
Assim desenvolvemos algumas estratégias para facilitar a transição o universo totalmente lúdico das ruas para os treinos de competição:
Utilizar exercícios com muita movimentação e com várias ações técnicas envolvidas;
Divisão dos educativos/exercícios em séries e repetições baseadas no tempo;
Número de séries minimo de 02 e máximo de 06;
Duração de cada repetição minimo 03 minutos e máximo de 05 minutos;
Executar os educativos na mesma velocidade em que ocorrem as ações no jogo;
Alternar os papéis durante as repetições dos educativos/exercícios.
Abaixo seguem as instruções para montagem e execução de um dos nossos educativos para passe:
Montagem (para cada bloco de exercício)
03 cones ou 02 cones e 01 prato demarcatório;
01 bola.
No sentido da largura da quadra, colocar um dos cones (ou prato demarcatório) sobre a linha lateral. Medir uma distância de aproximadamente 10 a 12 metros e colocar outro cone. Realizar nova medição, desta vez de 2 a 3 metros e colocar o outro cone.
Execução
Em grupos de 03 alunos coloca-se um em cada cone. A bola fica na posse do aluno que estiver no cone. Os outros dois ficam nos cones posicionados distante da linha lateral. O que tem a posse da bola realiza um passe para o colega que está no outro cone, ele recepciona e passa a bola de volta para aquele que iniciou o exercício. Após a devolução ele desloca-se de costas para o cone de trás ao mesmo tempo, que o aluno que estava no cone de trás passa para frente para realizar a recepção e devolução da bola.
Quando for realizar uma nova repetição troca-se o aluno que está no cone sobre a linha lateral. Realizar pelo menos três repetições de modo que todos os alunos passem pelo cone da linha lateral.
Possibilidades de variação
Tipo do passe a ser realizado (rasteiro, cavado ou meia-altura);
Tipo de recepção a ser realizada pelos alunos nos dois cones distantes (pisada, amortecimento na coxa + pisada, amortecimento no peito + pisada);
Invés do deslocamento para frente e para trás, obrigar a antecipação por parte dos alunos nos cones distantes.
Hoje teve inicio as aulas do núcleo Garcia do Projeto Arte nas Quadras. O Núcleo funcionará no Centro Educacional Edgard Santos nas segundas e quartas-feiras das 14h as 17h e 30 min.
O primeiro dia de funcionamento teve a presença de 21 dos 30 alunos inscritos sendo a sua maioria alunos da Escola Estadual Hildete Lomanto, localizada ao lado do Centro Educacional Edgard Santos. A maioria dos inscritos são das categorias sub-13 e sub-15, sendo que destes apenas 05 (cinco) são do sexo feminino.
Foram realizadas atividades de avaliação dos conhecimentos prévios dos alunos, utilizando situações táticas de ocorrência comum em jogos de futebol e futsal.
A sessão de treinamento foi composta de uma introdução quanto aos objetivos do Arte nas Quadras, alongamento, corrida de 10 minutos e as atividades de avaliaçao/sondagem.
As atividades de avaliação/sondagem foram:
Jogos situacionais 2v1 em espaço reduzido;
Jogos situacionais 3v2 em espaço reduzido;
Jogos situacionais 4v3 em meia-quadra.
Após as atividades os alunos tiveram uma conversa com o Diretor Técnico do Arte nas Quadras, o prof. Esp. Ailson Santana e a monitora Gessi Anne Batista. Alongaram e foram liberados para irem as suas residências sendo convidados a retornar na quarta-feira 26/08/2009.
Alguns procedimentos no que tange a sistematização do processo de ensino-aprendizagem em “escolinhas” de futebol/futsal (ou escolas de formação como preferem os europeus) são fundamentais para o sucesso ao final deste processo. Quando nos referimos ao final do processo, temos em mente a qualidade do atleta/individuo formado após anos treinando/pertencendo aos quadros da “escolinha”. Mas erros conceituais e de abordagem fazem com que o processo na maioria das vezes se inicie e tenha a sua conclusão sem com que as potencialidades do atletas/indivíduos sejam plenamente exploradas ou desenvolvidas.
O mais comum nas escolinhas é focar o aprendizado nos anos iniciais (a partir dos 08 anos) nos fundamentos técnicos, muitas vezes sem ênfase um fundamento técnico especifico ou um sistema de progressão do aprendizado, só a técnica pela técnica. Por sistema de progressão do aprendizado entenda-se como o seqüenciamento ou encadeamento de fundamentos técnicos, sendo que só se passa para o próximo estágio/fundamento quando já se domina o anterior. Alguns dirão que esta sistematização torna “pobre” e cansativa, a aula para o atleta/individuo. Além de dificultar a elaboração da aula/sessão de treino por parte do professor ou técnico responsável, uma vez que dependendo de como se sistematize (aí aparecem os erros conceituais e de abordagem) a variação de atividades se torna muito difícil.
Ao tentarmos seqüenciar o processo de ensino-aprendizagem devemos ter consciência do grau de importância de cada dos fundamentos técnicos para a evolução e participação do atleta no jogo. Sendo o futebol e o futsal esportes coletivos os primeiros e mais importantes fundamentos técnicos são o passe e a recepção (ou controle de bola).
Observamos na maioria das “escolinhas” de futebol/futsal brasileiras o foco no desenvolvimento da habilidade individual natural de cada jogador, ou seja, buscam maximizar o talento natural do atleta para uma determinada posição. Geralmente não há uma preocupação com o aprendizado técnico ou aprimoramento da técnica individual, quando isto ocorre é devido a uma “queda de rendimento” do potencial destaque da “escolinha” e apenas são focados neste trabalho os fundamentos técnicos nos quais ele tem apresentado deficiência.
Quando o foco muda do individual para o coletivo, geralmente é por ter um grupo de atletas aparentemente menos dotado do chamado por muitos de “talento natural”. Aí acontece outro equivoco muito comum no Brasil, ao invés de buscar ampliar e aprimorar o repertório técnico destes atletas a ênfase passa a ser no “aspecto tático” no qual a marcação e compactação defensiva ganham destaque.
Independente de qualquer um dos dois modelos que citei anteriormente, o trabalho a ser desenvolvido por um centro de formação/aprendizado tem de buscar sistematizar de modo coerente para possibilitar ao atleta/individuo o seu crescimento global. Não importando a sua aparente “habilidade” (ou como preferem alguns “talento”), pois é de conhecimento de todos que o desenvolvimento humano não se processa de maneira linear, e um atleta que aos 12 anos não apresenta boa desenvoltura em jogo pode depois aos 15-16 anos vir a se destacar mostrando um nível de jogo inimaginável para ele anos antes.
Na continuação de pilares, começaremos a estruturar e mostrar como realizamos a sistematização no Arte nas Quadras.
Diversos autores afirmam que o “pressing” ou marcação de pressão (como preferem alguns autores e treinadores brasileiros), surgiu na Holanda em meados dos anos 60 do seculo XX, por influencia de Rinus Michels (técnico do Ajax de Amsterdã e da seleção holandesa) tidos por muitos como o “pai” do Futebol Total.
O Futebol Total foi a sistematização do jogo de futebol que ficou conhecida mundialmente como carrossel holandês, cujo evento no qual se deu sua maior visualização foi a Copa do Mundo de 1974. Quando atribuo a este evento especifico a sua maior visualização, o faço porque pelo menos três anos antes esta sistematização (ou melhor, dizendo padrão de jogo), através do Ajax vinha dominando o futebol europeu (três Copas dos Campeões consecutivas, de 1971 a 1973), mas a velocidade de transmissão das informações na época só possibilitou sua “descoberta” no Mundial de 1974.
A meu ver o grande feito de Michels foi trazer para o jogo formal, a característica defensiva do futebol jogado nas ruas, tão comum antigamente e atualmente em vias de extinção. No futebol de rua normalmente as equipes atacam continuamente não há o recuo para que o adversário jogue (ou possa jogar), o referencial do jogo (ou se preferir objeto de disputa) a bola está em constante movimento, mudando de “dono” a cada lance (ainda que momentaneamente) a cada disputa.
As crianças não guardam posições não obedecem a esquemas ou padrões de jogo, apenas correm atrás do seu objeto de desejo no ambiente lúdico do futebol de rua. Mas inconscientemente durante o jogo na rua, eles têm comportamentos “táticos” definidos em comum acordo entre os membros do “time”. O mais hábil tecnicamente fica responsável fica responsável por criar/armar as jogadas ofensivas, mas tendo tanta responsabilidade defensiva (ou marcar como preferem alguns técnicos) quanto os demais. Aqueles de técnica “mediana”[i] também participam ativamente dos processos de disputa (posse/perda/recuperação) não se excluindo as ações de armação/criação. Transportando para a seleção holandesa de 1974, o mais hábil era o camisa 14, Johan Cruyjff e as demais peças da equipe seriam os nossos “medianos”.
Retornando ao futebol de rua podemos claramente perceber os elementos do “pressing” se analisarmos a vivência lúdica das crianças. Ao correr em massa buscando obter a posse da bola elas exercem a pressão zonal, ainda que inconscientemente. O portador da bola, por melhor que ele seja tecnicamente vê o espaço disponível para uma ação de desmacação, drasticamente reduzido e suas possibilidades de interação com os membros da sua equipe (time) igualmente reduzidas.
Na próxima postagem discutiremos o pressing no futsal e começaremos a analisar suas possibilidades/técnicas de ensino.
[i] Por técnica mediana entenda-se, o jogador não ser um virtuose e não um jogador de baixa qualidade técnica.
Nas aulas de Educação Física escolar muitos professores descompromissados com desporto escolar e com sua própria profissão, utilizam da ludicidade tão alardeada nos últimos anos, para transformar o futsal (desporto no qual focamos nossas discussões) “pedagogizado” (uma vez que este está inserido no ambiente escolar) em uma pálida cópia do futebol jogado nas ruas.
O professor de Educação Física muitas vezes justifica esta ausência de uma metodologia clara para o processo de ensino/aprendizagem da modalidade futsal, utilizando os argumentos de que a escola não é o local para formação esportiva ou que está utilizando o método global de ensino (quem dera eles soubessem, que teriam que interferir na prática dos alunos, bem mais que só aplicar as regras e controlar os times que esperam a de “fora”.
Em momento algum estou desmerecendo as ruas enquanto espaço de ensino/aprendizagem e grande formadora de talentos para o futebol/futsal em escala mundial. KROGER e ROTH (2006, pg. 08) afirmam sua importância quando citam que:
“Como deve ser a creche esportiva dos iniciantes? Qual deve ser a forma de
iniciação? Qual o caminho correto para poder jogar e possivelmente ter também
uma carreira no esporte de alto nível?
Há muito tempo essas questões se
responderiam por si próprias. As creches esportivas eram em regra geral, a rua,
os parques, as praças, os pátios das escolas, as praias, os campos, as várzeas
etc. Habilidades como quicar a bola, receber, lançar, passar e chutar eram parte
da motricidade geral e diária das crianças (...)”
Mas a meu ver o esporte quando pedagogizado deveria fornecer no nível de aprendizado bem mais que o ambiente empírico e experimental das ruas.
As escolas de iniciação dos clubes também não contribuem muito para a formação técnica e tática no futebol e futsal. Se a escola formal erra em não fornecer (pelo menos intencionalmente) nenhuma “bagagem” do ponto de vista da técnica e da tática, as “escolinhas” de iniciação eram em fornecer esta “bagagem” de maneira descontextualizada.
As necessidades mercadológicas com a “fabricação”, exposição e venda de jogadores cada vez mais novos transforma um método de ensino/aprendizagem que a meu ver já era controverso em inadequado para as necessidades da formação dos atletas das categorias menores. A isto soma-se a busca cada vez mais freqüente da carreira como esportista (destacando aqui o futebol e o futsal) como uma alternativa aos pais, pondo os seus filhos cada vez mais precocemente nas “escolinhas” de iniciação.
Novamente KROGER e ROTH (2006, pg. 08) trazendo transcrições de depoimentos dados a eles por atletas de destaque em varias modalidades esportivas entre elas o futebol, citam que as citações dos depoimentos servem de amostra para confirmar que muitos dos nossos “artistas da bola” eram jogadores universais, isto é não eram precocemente especializados como hoje.
Estas necessidades mercadologias fazem com que os professores e técnicos das categorias menores tenham uma preocupação excessiva com a tríade exposição/aquisição/assimilação dos conteúdos técnicos e táticos, por parte dos jovens atletas e alunos. Diante das limitações decorrentes da idade cronológica e maturidade biológica, opta-se pelo fracionamento dos mesmos em ações técnicas e ações táticas (lembram-se do método parcial?), mas sem tentar criar uma conexão entre ambas durante o processo de ensino/treinamento. Depois para compensar buscam tentar interligar-los por meio de atividades com foco no método misto ou os famosos “coletivos”.
O claro exemplo do fracasso desta proposta de ensino é o declínio técnico dos nossos jogadores e clubes de futebol. Muitos atribuirão isto ao êxodo dos jovens talentos do futebol nacional, mas esquecem que uma boa parte deles retorna depois de poucos anos, por não terem conseguido se adaptar ao estilo europeu de jogar.
A realidade é que não foi um caso de dificuldade de adaptação a um estilo tático, mas a incapacidade do jogador oriundo das “escolinhas” em realizar aquilo para o qual foi contratado, decidir as partidas e por o seu talento individual a serviço da equipe, algo que costumo chamar de inteligência de jogo.
E a razão pela qual isto acontece é clara, em nenhuma das duas situações (a escola formal e a de iniciação esportiva) a inteligência de jogo ou como preferem alguns o raciocínio do jogador/atleta não é desenvolvido.
Na primeira situação a inteligência de jogo não é desenvolvida, pois se na rua se aprende pelo elevado número de horas de prática (implicando em um altíssimo número de repetições), uma vez que na rua se joga por horas a fio, todos os dias. Enquanto na escola formal apenas 50 ou 60 minutos por semana.
Já na segunda situação o aluno/atleta na maioria das vezes tem toda a bagagem técnica (como fazer) e toda a bagagem tática (o que fazer), mas perde muito tempo decidindo qual das opções no seu “vasto” repertorio se encaixa na situação (quando fazer).
As alternativas a este problema começaremos a discutir na próxima postagem – O ensino das triangulações em quadra.
Referencias Bibliográficas:
KROGER, C. ROTH, K. Escola da Bola: um ABC para iniciantes nos jogos esportivos. 2ª Edição, Phorte Editora, 2006.
Licenciado em Educação Física pela UFBA|
Pós-graduado em Fisiologia do exercício pela UNEB|
Campeão baiano de Futsal - Categoria Adulto feminino (2002-2006)|
Duas vezes convocado para compor a comissão técnica da Seleção Baiana de futsal - Categoria Adulto feminino (2004 e 2006)|
Diretor técnico do Arte nas Quadras (desde 2005).