Nas aulas de Educação Física escolar muitos professores descompromissados com desporto escolar e com sua própria profissão, utilizam da ludicidade tão alardeada nos últimos anos, para transformar o futsal (desporto no qual focamos nossas discussões) “pedagogizado” (uma vez que este está inserido no ambiente escolar) em uma pálida cópia do futebol jogado nas ruas.
O professor de Educação Física muitas vezes justifica esta ausência de uma metodologia clara para o processo de ensino/aprendizagem da modalidade futsal, utilizando os argumentos de que a escola não é o local para formação esportiva ou que está utilizando o método global de ensino (quem dera eles soubessem, que teriam que interferir na prática dos alunos, bem mais que só aplicar as regras e controlar os times que esperam a de “fora”.
Em momento algum estou desmerecendo as ruas enquanto espaço de ensino/aprendizagem e grande formadora de talentos para o futebol/futsal em escala mundial. KROGER e ROTH (2006, pg. 08) afirmam sua importância quando citam que:
“Como deve ser a creche esportiva dos iniciantes? Qual deve ser a forma de iniciação? Qual o caminho correto para poder jogar e possivelmente ter também uma carreira no esporte de alto nível? Há muito tempo essas questões se responderiam por si próprias. As creches esportivas eram em regra geral, a rua, os parques, as praças, os pátios das escolas, as praias, os campos, as várzeas etc. Habilidades como quicar a bola, receber, lançar, passar e chutar eram parte da motricidade geral e diária das crianças (...)”
Mas a meu ver o esporte quando pedagogizado deveria fornecer no nível de aprendizado bem mais que o ambiente empírico e experimental das ruas.
As escolas de iniciação dos clubes também não contribuem muito para a formação técnica e tática no futebol e futsal. Se a escola formal erra em não fornecer (pelo menos intencionalmente) nenhuma “bagagem” do ponto de vista da técnica e da tática, as “escolinhas” de iniciação eram em fornecer esta “bagagem” de maneira descontextualizada.
As necessidades mercadológicas com a “fabricação”, exposição e venda de jogadores cada vez mais novos transforma um método de ensino/aprendizagem que a meu ver já era controverso em inadequado para as necessidades da formação dos atletas das categorias menores. A isto soma-se a busca cada vez mais freqüente da carreira como esportista (destacando aqui o futebol e o futsal) como uma alternativa aos pais, pondo os seus filhos cada vez mais precocemente nas “escolinhas” de iniciação.
Novamente KROGER e ROTH (2006, pg. 08) trazendo transcrições de depoimentos dados a eles por atletas de destaque em varias modalidades esportivas entre elas o futebol, citam que as citações dos depoimentos servem de amostra para confirmar que muitos dos nossos “artistas da bola” eram jogadores universais, isto é não eram precocemente especializados como hoje.
Estas necessidades mercadologias fazem com que os professores e técnicos das categorias menores tenham uma preocupação excessiva com a tríade exposição/aquisição/assimilação dos conteúdos técnicos e táticos, por parte dos jovens atletas e alunos. Diante das limitações decorrentes da idade cronológica e maturidade biológica, opta-se pelo fracionamento dos mesmos em ações técnicas e ações táticas (lembram-se do método parcial?), mas sem tentar criar uma conexão entre ambas durante o processo de ensino/treinamento. Depois para compensar buscam tentar interligar-los por meio de atividades com foco no método misto ou os famosos “coletivos”.
O claro exemplo do fracasso desta proposta de ensino é o declínio técnico dos nossos jogadores e clubes de futebol. Muitos atribuirão isto ao êxodo dos jovens talentos do futebol nacional, mas esquecem que uma boa parte deles retorna depois de poucos anos, por não terem conseguido se adaptar ao estilo europeu de jogar.
A realidade é que não foi um caso de dificuldade de adaptação a um estilo tático, mas a incapacidade do jogador oriundo das “escolinhas” em realizar aquilo para o qual foi contratado, decidir as partidas e por o seu talento individual a serviço da equipe, algo que costumo chamar de inteligência de jogo.
E a razão pela qual isto acontece é clara, em nenhuma das duas situações (a escola formal e a de iniciação esportiva) a inteligência de jogo ou como preferem alguns o raciocínio do jogador/atleta não é desenvolvido.
Na primeira situação a inteligência de jogo não é desenvolvida, pois se na rua se aprende pelo elevado número de horas de prática (implicando em um altíssimo número de repetições), uma vez que na rua se joga por horas a fio, todos os dias. Enquanto na escola formal apenas 50 ou 60 minutos por semana.
Já na segunda situação o aluno/atleta na maioria das vezes tem toda a bagagem técnica (como fazer) e toda a bagagem tática (o que fazer), mas perde muito tempo decidindo qual das opções no seu “vasto” repertorio se encaixa na situação (quando fazer).
As alternativas a este problema começaremos a discutir na próxima postagem – O ensino das triangulações em quadra.
Referencias Bibliográficas:
KROGER, C. ROTH, K. Escola da Bola: um ABC para iniciantes nos jogos esportivos. 2ª Edição, Phorte Editora, 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário