domingo, 22 de junho de 2008

Preparação física: diferencial ou não?

Ao assistir o jogo Holanda x Rússia, valido pelas quartas de finais da Euro 2008, pude perceber que alguns questionamentos que me fazia anos atrás ainda são atuais.
Durante muitos anos mesmo após ter me formado sempre tive dúvidas sobre qual era o melhor modelo/metodologia de preparação para ser adotado por mim, no processo de preparação física das equipes em que era responsável pela preparação física. Quando me graduei em meados de 2001, as publicações sobre a escola russa de treinamento desportivo eram a novidade do momento e a maioria dos profissionais da área adotavam os métodos "russos" e propagavam as maravilhas obtidas por eles.
Alguns questionamentos me fizeram seguir uma linha de trabalho híbrida combinando o que de melhor, havia chegado até das duas escolas de treinamento. Os significativos índices de determinados tipos de lesões em atletas das equipes nas quais atuavam os profissionais que mencionei antes, me fizeram conter a minha euforia pela nova filosofia que tomava contato. Mas o jogo das quartas de final da Euro 2008 voltou a me inquietar.
A seleção russa venceu a seleção holandesa, jogando da mesma forma que os holandeses se portaram quando venceram os italianos, franceses e romenos, mas a meu ver com um diferencial, a preparação física. O técnico da Rússia Guus Hiddink (ex-treinador da própria seleção holandesa) se utilizou do excelente nível de condicionamento físico de sua equipe para imprimir ao estilo holandês de jogar um “pressing”, que em muito lembrava o carrossel holandês de 1974, pela dificuldade que criavam para as outras equipes na saída de bola e jogo no meio de campo. A seleção holandesa iniciou o jogo sem conseguir imprimir seu ritmo e estilo habitual de jogo, devido ao “pressing” imposto pelo selecionado russo. A horizontalidade e velocidade características do estilo holandês foram anuladas por uma equipe que parecia se multiplicar no meio de campo, ocupando todos os espaços vazios e marcava individualmente o único atacante adversário, impedindo o ataque direto (ou ligação direta). Apesar dos holandeses terem equilibrado o jogo a partir dos vinte minutos da etapa inicial, não conseguiram romper ou atuar de uma forma que sequer lembrasse os seus jogos frente as seleções italiana e francesa. Na prorrogação ficou evidente a diferença no nível de condicionamento físico das duas seleções, enquanto a Rússia continuava na sua "multiplicação" defensiva e atacando em velocidade quando recuperava (ou tinha) a posse de bola. A Holanda tinha claras dificuldades em acompanhar o selecionado adversário nas ações defensivas ou sair em velocidade nos contra-ataques (mesmo quando estava em situações momentâneas de vantagem númerica).
O que será que decidiu o jogo em favor do selecionado russo? o fato de ter encarado os holandeses utilizando o seu proprio estilo de jogo (algo impensavel até então), o condicionamento físico claramente superior dos russos, ou os holandeses subestimaram os seus adversários? Quem melhor definiu o jogo foi o técnico do selecionado russo na coletiva que se seguiu ao final do jogo:
"Geralmente, a Holanda tem uma equipa impossível de dominar tacticamente, tecnicamente e fisicamente, mas nós tivemos êxito a fazê-lo nesses três domínios”.
Guus Hiddink
Iniciamos com este texto o nosso blog e lançamos um questionamento para ser debatido nas próximas postagens do blog do Arte nas Quadras:
" Como criar equipes que combinem um padrão de jogo fluido, criatividade, excelente condicionamento físico, bom nível de raciocinio tático e determinação tática?"
Este é o desafio para aqueles profissionais que trabalham na formação de atletas de futsal, especialmente nas categorias de base, independentemente do sexo dos atletas.

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