quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A inteligência espacial e desenvolvimento da "capacidade de jogo" do jogador de futsal (1ª parte)

A inteligência espacial pode ser definida como a capacidade de "relacionar o próprio espaço que nos envolve, percebendo e administrando distâncias, pontos de referência (...), bem como revelando a capacidade de perceber diferentes objetos, eventualmente transformando-os e combinando-os em novas posições" (ANTUNES, 2006).
O mesmo autor ainda destaca que as pessoas que possuem um bom nível de inteligência espacial, "efetuam transformações e modificações sobre as suas percepções e mostra-se capaz de recriar aspectos da experiência visual ou "pensar visualmente, mesmo na ausência de objetos" (ANTUNES, 2006). As definições acima extraídas do livro "Inteligências múltiplas e seus jogos: Inteligência espacial", enfocam ainda que não estejam direcionadas para o futsal, necessidades básicas inerentes para prática do futsal não importando o nível técnico ou de habilidade técnica dos praticantes. Não importa a ação técnica a ser realizada ou a posição em quadra, se jogador de linha ou goleiro, a inteligência espacial é um requisito imprescindivel para a evolução/sucesso do jogador de futsal. Para exemplificar a importância da inteligência espacial, tomemos um situação corriqueira no jogo de futsal: o contra-ataque depois de defesa do goleiro.
  1. A realização da defesa por parte do goleiro envolve a identificação das possibilidades de finalização/assistência, referenciadas no posicionamento dos adversários, companheiros e da bola;
  2. Perceber a distância e a trajetória da finalização no gol, analisando a velocidade da bola e as possibilidades de defesa (se espalmar, encaixar ou deixar bater no corpo etc.);
  3. Após a realização da defesa, o goleiro tem que localizar rapidamente os companheiros e adversários na quadra de jogo, analisar as possibilidades de movimentação deles e os "corredores de passe" (locais por onde a bola pode passar com mais facilidade para o receptor), escolhendo o com mais chances de sucesso do passe;
  4. O jogador que recebeu o passe do goleiro tem de realizar os mesmos procedimentos de identificação das localizações dos adversários e companheiros (pontos de referência na quadra de jogo) e análise das possibilidades de movimentação deles. O diferencial é que ele terá que realizar a tríplice ameaça (que será tema de uma postagem futura) de forma isolada (passar, driblar ou finalizar) ou combinada (drible+passe, drible+ assistência ou drible+finalização).
Em todos os passos que tentei descrever acima, podemos perceber que o aspecto decisional de cada ação realizada na situação descrita anteriormente, tem ligação direta com a capacidade do individuo pensar de maneira tridimensional, possibilitando a ele possuir imagens internas e externas dos objetos/pessoas através da quadra de jogo e a decodificar com facilidade informações visuais adquiridas/percebidas. ANTUNES (2006) citando GARDNER (1995) descreve as três formas por meio das quais se manifesta a capacidade espacial do individuo, mas para a prática do futsal são mais significativas duas:
  • a capacidade de imaginar movimentos ou deslocamentos internos entre as partes de uma configuração;
  • a capacidade de pensar sobre as relações espaciais nas quais a orientação corporal do observador é parte essencial do problema.
Normalmente o foco do ensino do futsal é o aperfeiçoamento técnico e tático do talento tido como "natural" de cada aluno, mas usualmente esquece-se da necessidade da observação e aprimoramento do nível de inteligência espacial do aluno. Pois sem um bom nível desta a primazia técnica e o elevado nível de habilidade individual tão almejado por alunos, pais, professores e técnicos se mostrará inútil, uma vez que os erros na interpretação dos dados visuais adquiridos por meio dos olhos o levarão muitas vezes a escolhas equivocadas na hora de decidir o que fazer. O que leva ao surgimento de um jogador com sérias dificuldades de participar do jogo coletivo da equipe, preferindo na maioria das vezes as ações individuais (drible ou chute), que geralmente não é o mais indicado para a situação na qual o jogador se encontra. Meramente pela dificuldade de perceber opções melhores dadas pelo jogo em si e pelos companheiros. Isto quando o jogador tiver um excepcional talento individual, caso não tenha este nível terá dificuldades ainda maiores para desenvolvimento das suas habilidades dentro do jogo. Referências bibliográficas
  1. ANTUNES, CELSO. Inteligências múltiplas e seus jogos: Inteligência espacial. Vol. 4. Editora Vozes, Petropólis, RJ, 2006.
  2. GARDNER, HOWARD. Estruturas da mente - as inteligências múltiplas. Artmed, Porto Alegre, RS, 1995.

Nenhum comentário: