Um livro que terminei a leitura no ultimo final de semana, Maestro de Roger Nierenberg, me fez retornar ao tempo em que as inquietações sobre a maneira como eram (e em muitos locais da Bahia ou do mundo ainda são) conduzidas a formação das equipes e o treinamento dos (as) atletas, me levaram a criar o Arte nas Quadras no final de 2005.
O pilar central da narrativa (que continuarei nas próximas postagens) é um modelo de liderança na qual cada individuo é estimulado a seguir não o lider, mas as ideias e os objetivos para o coletivo (grupo) decorrentes da "visão" que o lider tem para a tarefa a ser feita.
A "visão" do lider para o grupo tem que ser algo desafiador, levando os membros da equipe a utilizar os talentos e habilidades para concretizar-la. O livro cita ainda o principal problema da liderança de grupos e equipes quando o líder (ou no caso o técnico tem uma atitude centralizadora - os atletas podem ser obrigados a aceitarem as ordens e instruções do tecnico, pode exigir obediencia por parte deles. Mas o líder não pode exercer esta mesma coerção para que que se entusiasmem com o treino (ou jogo), a serem criativos ou sentirem-se inspirados.
O autor ainda cita "se você dá valor a essas coisas (o entusiasmo, a criatividade e a inspiração), é preciso que as pessoas se sintam donas do seu trabalho e, para isso, o líder deve ceder um pouco do controle a elas". Coisas sem as quais não é possível a realização do jogo competitivo do futsal. Quando duas equipes se equivalem nos aspectos fisicos e táticos, as possibilidades de vitória passam a residir nos desequibrios na organização tática, que possam surgir de situações 1v1. Situações que ocorrem frenquentemente no jogo competitivo e que requerem para a superação do adversário, além da habilidade individual do atleta, a criatividade e a inspiração.
Sem estes três ingredientes teremos uma equipe com mecânica de jogo perfeita, mas provavelmente sem capacidade para arriscar e desequilibrar nos momentos que o adversário, jogar de igual para igual com ela. Além do risco de também ser uma equipe incapaz de virar resultados adversos.
A maior preocupação do técnico neste paradigma é criar um ambiente no qual os atletas se sintam livres para criar, sugerir, assumir responsabilidades. E ele possa ainda assim passar a sua "visão" do padrão de jogo da equipe, fazer correções e instruir os atletas quando necessário. Alguns me dirão que a minha proposta é dificilima de ser implantada, mas se atentarmos ao significado da palavra maestro teremos uma noção que a tarefa não é tão dificil quanto parece.
Em italiano o significado da palavra maestro é mestre, professor, tutor ou instrutor. Mas no final do livro Maestro de Roger Nierenberg um dos personagens explica a sutil diferença entre o significado do dicionário e a real função do maestro.
"Maestro não é aquele que lhe ensina todas as coisas de que você precisa para conseguir seu diploma nem é quem o treina em sua especialidade (...) este é o professore. Já o maestro é aquele que lança as bases para o aprendizado, que ensina principios e valores: a curiosidade em relação ao mundo, a confiança de que a educação sempre acaba por gerar liberdade, a coragem de lutar por algo maior do que simplemente satisfazer o apetite, os ideais que perduram por toda a sua vida"